TUDO COMO ANTES
Quando criança, Arildo, Bertoldo Sinfrônio ou todos eles, nem calçados tinham, os pés calejados do contato com a terra batida era a regra, perambulavam pelas poucas ruas, vez ou outra corriam pasto ou mato afora, as casas nem muro tinham, mal mal uma cerca de arame separava o espaço de mando entre um quintal e outro. Era mesmo assim. A meninada era unida, subiam em árvore e faziam acrobacias, se banhavam nos córregos à época ainda despoluídos, a brincadeira só era pausada quando alguém gritava! -Us minino! Ô usminino! Todo mundo pra dentro! Eram os pequenos levados, sem dúvida, mas nunca desobedientes. De forma rápida e sem questionamentos, chegavam, passavam uma água nas pernas cinzentas e se apresentavam, tempo bom aquele, filho escutava, ouvia e atendia aos mais velhos, virava vagabundo não. Hoje, outros tempos sim, muita coisa diferente, mas outras não, os sucessos ou insucessos, as formas de se progredir, os padrões e regras para se atingir objetivos, os caminhos e as dificuldades embora com outra roupagem são praticamente as mesmas, ou seja, tudo como antes. Muitos de nós, à caça de melhoras seguimos ora ereto, ora cambaleante, um tropeço aqui outro ali, alguns tombos, choro, e se agarrando onde pode levantamos para seguir, a cada queda. E vamos construindo castelos de sonhos e areia, que ruem e são reconstruídos, ora, e após tudo isso ainda é possível vencer? Nossa estrutura humana tem um DNA de teimosia, e, mesmo em situação de pura adversidade somos impulsionados a continuar. Muitos homens e mulheres de fibra são formados assim, garrados no batente sem choramingar, trabalhando sob sol escaldante aprendem a vencer os desafios como se brincando estivessem. Hoje então, num cenário um tanto quanto diferente, as pessoas de bem e conscientes mesmo fazendo careta enfrentam incontáveis dificuldades, mas vencem, só que não devemos pensar que a modernidade facilita tudo para o individuo, vence, mas tal qual antes, tropeça, cai, levanta, bate e sacode a poeira da bunda e como diz a música, dá a volta por cima, as batalhas de hoje são vencidas também com muito suor e esforço, às vezes por obra do acaso ou destino, com um toque de sorte e o vento soprando a favor é possível sair vitorioso em lutas antes consideradas perdidas, então, difícil antes, difícil hoje. Um conselho, se não quer engrossar as fileiras dos perdedores, lute e brigue durante os 90 minutos, sem, contudo, não se esquecer de encher o peito de ar para o decisivo tempo da prorrogação, o jogo, só acaba quando termina. Como eu disse e agora repito só vence quem se inscreve e briga até o último instante, em outras palavras, mudou muita coisa não “Tudo como dantes no quartel de Abrantes”. Essa de que em relação a antes está tudo mais fácil, molezinha, pura balela, para pessoas de bem e trabalhadoras, nada e nem nunca foi fácil.
Miguel Francisco do Sêrro – Advogado e Historiador
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