O pai do marketing contra Trump pede mais humanidade

 O pai do marketing contra Trump pede mais humanidade

Por Lucas Couto de Souza. Diretor, Gerente Comercial, Marketing e Relações Institucionais Gestor de Comunicação, Marketing e Eventos da Fecomércio MG

Quem diria. Vem de um dos professores de marketing mais famosos da atualidade e nascido na mais notável sociedade de consumo do mundo, os Estados Unidos, o alerta de que o marketing precisa ser humanista. Philip Kotler, autor do livro Marketing H2H – A jornada do Marketing Human to Human, lançado no Brasil no ano passado, causou durante uma palestra online para estudantes brasileiros de uma famosa escola de propaganda no dia 04 de fevereiro deste ano.

O “pai do marketing moderno” declarou que está com vergonha do que acontece no país dele e reforçou que é preciso compreender o ser humano para além do consumo.

O motivo do lamento do professor são os rumos do governo do presidente dos EUA Donald Trump que, desde que foi empossado, em janeiro, vem colocando por terra o chamado “soft power” norte-americano – estratégia dos países para ganharem poder sem o uso da força. Trump dá de ombros para o soft power.

Como um bandoleiro dos filmes gringos de faroeste, e talvez buscando mesmo essa associação com o imaginário nativo, o presidente faz ecoar na mídia de todo mundo que não está nem aí para imigrantes (a mãe dele era e a atual mulher é imigrante). Manifesta desprezo pela soberania dos países e fala em tirar palestinos da Faixa de Gaza para transformar a região na Riviera do Oriente Médio.

Há semanas, a imprensa do mundo todo virou um megafone das falas que poderiam ser consideradas bravatas e insanas se não viessem do presidente do país que ele diz querer manter como a maior potência econômica e bélica do mundo.

Enquanto professor de imenso prestígio, com longa e sólida carreira construída e reconhecida, a fala do professor Kotler se opondo à linha do governo de seu país é importante.

Primeiro para sinalizar que uma personalidade lúcida, coerente, séria e proeminente dos Estados Unidos contesta a imagem que Trump quer criar no mundo para o país. Em segundo lugar, o professor mostra que evoluiu em seu pensamento fundamentado nas teorias do marketing que fizeram a fama e a fortuna do EUA.

Philip Kotler sustenta, com seu desgosto manifesto pela política de Trump, que a América não precisa querer ser grande de novo porque não deixou de ser grande. Os EUA, assim como o mundo, assim como o marketing, evoluíram e não podem desconsiderar o ser humano que consome, seja hambúrguer seja cinema.

A voz de Kotler não ecoa como a de Trump, empoderado pelo voto popular e pelo colégio eleitoral como presidente da grande potência. O professor de marketing a sua maneira insiste no soft power que Trump despreza e desabona.

Kotler representa os EUA que não recusam o poder da riqueza gerada pelas bem-sucedidas ideias do marketing que os tornaram a potência que são. O professor só ensina uma outra vez que os milhões que consomem todos os tipos de produto dos Estados Unidos e que os fazem ricos, só o fazem porque são humanos.

Humanos hoje se conectam em redes, ligados em cada canto do mundo sem distinção de cor, renda e gênero. É bom ter cuidado com esses consumidores em larga escala, invisíveis, com a única certeza de que o que os unifica é o fato digamos banal de que são humanos.

Kotler sim, mantém viva a inteligência norte-americana, bem-vinda sempre porque como já disse Caetano Veloso, “americanos não são americanos. São os velhos homens humanos, chegando, passando, atravessando”.

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