Lançamento do livro “O Quatorze” obra de Florival Ferreira foi um sucesso

 Lançamento do livro “O Quatorze” obra de Florival Ferreira foi um sucesso

Evento literário reúne autores locais, familiares e amigos do Flô em Paracatu

 Muita gente foi conferir o lançamento do livro “O Quatorze” , do querido escritor e jornalista, Florival Ferreira na noite de ontem (22), na sede da Fundação Casa de Cultura.

Florival faleceu em setembro de 2024, mas sua obra permanece viva, perpetuando sua visão e sua genialidade. Sempre à frente de seu tempo, ele enxergava nas palavras um poder transformador, e entre seus muitos projetos, havia um que lhe trazia especial alegria: o livro “O Quatorze”. Era um tema recorrente em suas conversas, um sonho que ele nutria com entusiasmo e dedicação. Hoje, este sonho se torna realidade, e sua obra ganha vida para alcançar o maior número de pessoas possível.

O livro foi distribuido gratuitamente.

O lançamento do livro, não apenas honra sua memória, mas garante que sua voz ecoe por gerações. Uma forma de eternizar um homem cuja mente brilhante deixou uma marca indelével na literatura, no jornalismo e na advocacia.

Presenças: Presidente da Academia de Letras do Noroeste de Minas, Dra. Daniela de Faria Prado, esposa do autor, Ruth Brochado Ferreira, Secretário Municipal de Cultura, Thiago Gomes, vice-presidente da Academia de Letras do Noroeste de Minas, Helen Ulhoa, diretora da Fundação Casa de Cultura, Juliene Almeida, familiares e amigos. A casa ficou lotada de pessoas que admiravam o mestre Florival.

Vídeos em homenagem ao autor Florival Ferreira

O QUINZE e O QUATORZE

José Edmar Gomes

 O QUINZE veio antes de O QUATORZE — exatamente em 1930 — e relata os horrores da seca de 1915, considerada a maior seca que o Nordeste brasileiro já suportou. Vale dizer que o Nordeste brasileiro já suportou muita coisa; inclusive outras secas semelhantes ou mais penosas.

Mas o absurdo que os flagelados da seca de 1915 e de outros anos suportaram foram os campos de concentração, em certas cidades do Ceará. Sim, campos de concentração, onde os flagelados eram “presos” para que não alcançassem a capital, Fortaleza, que vivia ares parisienses, a partir dos lucros da comercialização do algodão, e não queria ser incomodada por gente feia, suja e faminta.

O QUINZE, além da seca, e por causa dela, relata exatamente a vida de uma família de retirantes que a seca expulsou da zona rural de Quixadá e, depois das agruras do caminho, acaba em um destes campos de concentração, onde se morria de fome, de peste, de sede, ou de outros males. Paralelamente, a história relata o intrincado romance entre uma generosa professora e um rude proprietário de terras.

O QUINZE conta mais uma história das mazelas do Brasil desigual que nos assolam, há séculos. Esta história continua dificílima de ser superada, mesmo com um ex-flagelado na Presidência da República, pela terceira vez.

O QUINZE é o primeiro romance da cearense Rachel de Queiroz, que o escreveu antes de completar 20 anos e o publicou, às próprias custas, em 1930, abrindo caminho para outros clássicos que abordam a temática das secas nordestinas, como Vidas Secas, de Graciliano Ramos; Luzia-Homem, de Domingos Olympio; A Bagaceira, de José Américo de Almeida, este publicado em 1928, dando início ao Ciclo do Regionalismo Nordestino.

Faltou dizer, que O QUINZE, como mais um clássico da literatura nacional, guindou Rachel de Queiroz à Academia Brasileira de Letras, sendo a primeira mulher a ser eleita para tal honraria. Isso já em 4 de agosto de 1977, praticamente meio século após sua publicação.

Sinal de que a Casa do Bruxo do Cosme Velho – ao contrário da nossa Academia de Letras do Noroeste de Minas — era um verdadeiro Clube do Bolinha.

Caramba!!! Todo mundo deve estar se perguntando o porquê de tanta referência a O QUINZE e não a O QUATORZE. Sim, esta pergunta vale um milhão de livros, para este momento.

FLORIVAL FERREIRA, inteligente, perspicaz e, como todo bom jornalista, queria que sua obra causasse impacto… e o Soldado Quatorze, por ser um personagem tão denso, já trazia em si o título do romance. Título este que o remete ao clássico de Rachel de Queiroz.

Mas as semelhanças não estão apenas no título. A obra de maior fôlego de FORIVAL FERREIRA, além de encontrar título tão feliz, alcança a importância histórica e dramática e, porque não dizer, a mesma força narrativa e trágica de O QUINZE e de outros clássicos do romanceiro regionalista e realista da literatura nacional.

O Soldado Quatorze e sua vocação para a tragédia, a partir de um contexto social e político esdrúxulo e até delirante, que nos é muito peculiar — e ainda não arredou pé da nossa realidade, até os dias de hoje – carrega em sua natureza de vítima deste mesmo contexto social e político, a força narrativa que permeia o destino de personagens como Chico Bento/Cordulina, do já tão citado O QUINZE; de Fabiano, de Vidas Secas ou de Luzia, de Luzia-Homem.

E, ainda que este O QUATORZE, de FLORIVAL FERREIRA, tenha surgido praticamente um século depois de O QUINZE, de Rachel, a felicidade da semelhança dos títulos, além de aproximá-los, os colocam na mesma linha de grandeza literária e histórica, que vai muito além de um capricho ou de um trocadilho numérico. A ponto de o mestre OLIVEIRA MELLO dizer claramente no prefácio, que “Florival trouxe-nos um ser humano muito além de um número.”

A importância de O QUATORZE começa por reinserir Paracatu dentro de um rumoroso momento político que colocou o País em pânico e deixou a própria Paracatu estupefata, diante de algo que parecia tão distante e, de repente, estava batendo a nossa porta.

Mas, O QUATORZE vai muito além do resgate de fatos históricos, romanceados, a partir da pena precisa e poética de FLORIVAL. O livro, ainda que timidamente, desnuda todo o amor do autor por Paracatu. Cidade que o acolheu generosamente e dele recebeu generosidades ainda maiores.

Foi aqui que ele exerceu seu ofício de bancário, podendo estabilizar-se, ante a sempre incerta primeira opção profissional de sua vida – o jornalismo – ao qual se dedicou a vida inteira e apaixonadamente.

Tão apaixonadamente, que todos os órgãos de imprensa da cidade têm a sua digital. Sem falar nesta Academia de Letras do Noroeste de Minas, da qual era sócio-fundador.

Foi em Paracatu, também, que ele vislumbrou os olhos negros de sua amada dona Ruth e, com ela, construiu uma prole magnífica, a partir de suas duas musas – Marília e Cecília — que, aliadas a uma legião de amigos, tornaram seu universo tão amplo e tão magnífico, que ele pôde exercer a desgastante profissão de bancário, exalando seu peculiar bom humor.

No jornalismo, para o qual nasceu pronto e acabado, sua postura era magistral e trazia, em si, o conhecimento generalista que se aprofundava, quanto mais a missão assim o exigia. Sua militância jornalística abriu clarões, alcançou alturas, transpôs obstáculos, seduziu meios acadêmicos, encantou gerações.

Todo e qualquer texto, mesmo os mais rotineiros e comezinhos, vindos de sua pena, trazia o aprofundamento literário que transcendia à mera rotina do matraquear de uma máquina de escrever (Sim, nós somos do tempo da máquina de escrever).

Não se admira, então, que de tal pena, venha este O QUATORZE, uma obra amorosa, prenhe de paixão pela vida – que lhe foi tão curta – mas bela o bastante para que FLORIVAL FERREIRA se deixasse reconhecer na infância difícil do Soldado Quatorze.

Infância difícil, porém, digna o bastante para que os sonhos de justiça, de paz, de democracia e de decência moldassem uma vida que sonhou o sonho mais lindo do mundo, que é o sonho da busca da VERDADE. VERDADE que transforma vidas, que alarga horizontes e nos faz maiores para que possamos começar a entender a grandeza do Deus Altíssimo.

O sonho — sim o sonho de encontrar o amor, a paz e a justiça – que moveria o Soldado Quatorze ao mais que bicentenário Centro Histórico de Paracatu, onde estava o seu amor maior – Luíza. Amor que FLORIVAL FERREIRA encontrara aqui, nos olhos negros de dona Ruth e nos braços de suas duas filhas, Marília e Cecília.

Porém faltava construir a sua Jesualda – a nossa Jesualda; a Cidade de Jesus; a Cidade Ideal — aonde todos os nossos sonhos iriam (ou vão) desaguar-se.

Embora ele tenha trabalhado, incansavelmente, neste mister, todos os dias, a tarefa continua inacabada, porque a vida é curta demais para quem a deveria ter longa. E Deus, ainda, não respondeu porque isso acontece.

FLORIVAL FERREIRA, assim como o Soldado Quatorze, foi abatido em plena luta. Luta por ideais maiores, que ocupam mentes brilhantes, revolucionárias, mentes que sonham com um mundo igual para todos…

Então, paracatuenses, FLORIVAL FERREIRA nos deixa, além do sonho de justiça e liberdade, a missão de construirmos, cada um de nós, a nossa Jesualda interna, onde possamos acolher as grandes ideias, as melhores intenções e a beleza da poesia.

Esta cidade – Paracatu, tão bela e acolhedora – foi capaz de acolher espíritos tão visionários e altivos como o do autor de O QUATORZE e do seu personagem principal.

Eles morreram com o coração cheio de amor. Amor que transcende obstáculos e move o mundo. Não deixemos este amor morrer.

FLORIVAL FERREIRA — você está aqui, ‘vivendo este momento lindo’. E aqui permanecerá para sempre, com este seu O QUATORZE e a sua Jesualda – a nossa Jerusalém Celestial, em que um dia Paracatu há de se transformar.

José Edmar Gomes – Jornalista         

A noite foi calorosa e emocionante

Durante o evento várias homenagens aconteceram, e a Academia de Letras do Noroeste de Minas faz entrega a Ruth Brochado Ferreira o diploma de sócio benemérita por todos os relevantes serviços prestados a esta associação. Ruth, assim como para a ALNM nunca existiu Florival sem Ruth, jamais existirá Ruth sem Florival. A ALNM agradeceu por todo apoio e presença deste a sua fundação.

Foi uma noite marcante.

   

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