Lançamento da Revista “EntreLetras” – 2019
A Academia de Letras do Noroeste de Minas (ALNM) lançou na noite de ontem (13), “EntreLetras” – 2019, a revista literária anual. Trata-se de uma nova fase da publicação, que circulou no passado, porém em formato de jornal impresso, sob a coordenação do acadêmico Tarzan Leão de Souza. Agora, com mesmo proposito cultural e literário, ela retorna, ampliada e aperfeiçoada, em forma de revista eletrônica, perfeitamente adequada á moderna tecnologia e em condição de levar seu conteúdo aos quatros cantos do planeta, expondo novas ideias, ensejando discussões e fomentando o surgimento de outras perspectivas no mundo intelectual. A revista
EntreLetras já está à disposição de pesquisadores, literatos, escolas, bibliotecas, estudantes e do público leitor em geral no blog da Academia de Letras do Noroeste de Minas.
A criação de uma revista é sempre um acontecimento significativo na existência das pessoas que dela participam. A emergência de novos espaços de discussões, debates e divulgação de ideias que a revista tem capacidade de estimular, revitaliza, dinamiza e enriquece a vida intelectual de cada um de seus integrantes e potencializa a força coletiva da instituição. Por isso, o surgimento desse primeiro número de ENTRE LETRAS- Revista da Academia de Letras do Noroeste de Minas (ALNM) marca um dos momentos privilegiados da existência da referida Academia, reafirmando o projeto de gestão da instituição pautado na valorização e divulgação da Pesquisa e demais produções literárias e artísticas produzidas nessa casa.
Não se trata apenas do fato auspicioso da criação de uma revista. Trata-se, isto sim, de uma revista concebida e criada pelos membros dessa Academia. Ora, isso implica, no mínimo, que os envolvidos no trabalho viverão ricamente o exercício de criar, publicar, debater suas ideias, rever posições, e abandonar dogmas, ao se transformarem em críticos selecionadores do material a ser publicado. Tal experiência editorial poderá ser experimentada por grande parte da comunidade paracatuense e do Noroeste de Minas. Assim, a criação de um espaço específico de discussão, gerido e destinado aos acadêmicos e comunidade, amplia e enriquece a própria dinâmica de preservação da cultura e memória da região. Ademais, estamos certos de que a Revista ENTRE LETRAS, ao veicular a publicação de trabalhos, não só se constituirá em um espaço vivo dessa memória regional, com também um canal de sua divulgação.
O primeiro número da Revista ENTRE LETRAS está dividido em dois cadernos, a saber: Caderno Literário e Caderno Científico.
A abertura deste número ficou a cargo do Caderno Literário que está composto por poesias, roteiro para curta metragem e textos literários de cunho reflexivo sobre aspectos da realidade brasileira e do Noroeste de Minas. O caderno é aberto pela bela poesia “Entre Mim e Nobokov” de autoria de Morvan Ulhoa, que nos brinda com a sua sensibilidade de artista múltiplo. Em “A Agonia do Sertão de Guimarães”, escrito por Maria Teresa Oliveira Melo Cambronio encontramos um grito de socorro do Cerrado clamando por sua preservação. “A Casa do Anjo”, de Benedita Gouveia Damasceno Simonetti traz reflexões sobre memórias construídas ao longo de uma bela carreira diplomática, pautada pelo amor ao Brasil e às relações deste com a África. Em “serras e cerrados: em algum lugar do passado”, texto no Formato Curta metragem, Maria do Socorro de Melo Martins busca reproduzir linguagens, hábitos e costumes regionais ainda presentes na região rural desse amplo sertão brasileiro. “Os Buritis de Arinos” texto escrito por Márcio José dos Santos traz reflexões sobre a degradação do ambiente propício à palmeira Buriti. A experiência e as pesquisas de Isaías Nery Ferreira o levaram a estabelecer uma relação de troca com a comunidade e a construir textos de cunho popular como esse, sobre “Hanseníase X Lepra”, visando quebrar preconceitos e gerar cuidados. Essas contribuições representam um pouco da diversidade de atividades e pensamentos presentes na academia de Letras do Noroeste de Minas. Todos os autores até aqui fazem parte dos nossos quadros, de associados efetivos e correspondentes.
O segundo é o Caderno Científico e está composto por nove artigos, incluindo autores convidados e três resenhas. A seção de artigos ficou assim disposta:
O primeiro artigo é de autoria da historiadora Helen Ulhôa Pimentel que buscou apresentar brevemente a vida de Afonso Arinos, visando explicar sua obra pela sintonia entre suas raízes interioranas, que lhe renderam ricas experiências humanas; sua privilegiada formação intelectual, aliada a uma personalidade marcante e arrebatadora; suas fortes e coerentes convicções políticas e sociais em defesa do monarquismo e da cultura popular; e as circunstâncias históricas e culturais da época em que viveu.
Ana Beatriz Fonseca dos Santos e Margareth Vetis Zaganelli assinaram o segundo artigo e tiveram como objetivo investigar a interface entre o Direito, a Literatura e as teorias da Justiça, por intermédio da análise da obra literária Grande Sertão: Veredas (1956), de João Guimarães Rosa. Com esse intento, analisaram as manifestações do conceito de justiça na obra roseana, especialmente no episódio do julgamento do personagem Zé Bebelo. Conforme as autoras, por meio de pesquisa qualitativa com base em levantamento bibliográfico, buscam descrever como os fenômeno jurídico e político são compreendidos e ressignificados a partir da criatividade e ludicidade presentes no romance, assinalando, além disso, as consequências que a realização de um “julgamento justo” proporcionou ao hostil universo sertanejo, marcado por vinganças e batalhas sangrentas
O terceiro artigo foi escrito por Márcio José dos Santos, que em seus estudos demonstrou que as escolas são organizações planejadas e operadas como máquinas. O modelo mecanicista (taylorista), oriundo do processo industrial das fábricas e caracterizado pela racionalização, planejamento, formalização, mecanização, divisão do trabalho, produção de massa e centralização exerceu inúmeras influências na gestão das escolas brasileiras. Para o autor, um dos principais desafios da gestão escolar é substituir o pensamento mecanicista por novas ideias e abordagens.
Vandeir José da Silva é autor do quarto artigo que reflete a história presente nas lembranças de remanescentes de quilombo de São Domingos, município de Paracatu, Noroeste do Estado de Minas Gerais, mais especificamente dos mais idosos, nas histórias contadas por seus pais e avós. O objetivo foi perceber representações de moradores dessa comunidade acerca da sua história. Para ele a história cultural foi utilizada como lugar de reflexão, sendo que esse campo historiográfico possibilitou uma análise do lugar como espaço privilegiado de vivências e experiências partilhadas, entre as quais, algumas são descritas na tessitura desse artigo e que se relacionam com as pesquisas realizadas durante o mestrado na Universidade de Brasília.
O quinto artigo tem por escopo investigar a construção da imagem do sertão por meio da análise dos relatos de Riobaldo, na obra Grande sertão: veredas (1956), de Guimarães Rosa. Na obra, Riobaldo e um bando de jagunços percorrem léguas do sertão de Minas Gerais. Ao mesmo tempo em que perseguem seus inimigos e travam sangrentas batalhas, Diadorim e Riobaldo vivem uma linda história de amor e atravessam paisagens do noroeste mineiro. Por meio de metodologia qualitativa, com apoio em pesquisa bibliográfica e documental, o presente trabalho propõe-se a estabelecer um paralelo entre conceitos geográficos, tais como espaço, território e lugar, e averiguar de que modo estes conceitos são representados na obra em comento. O artigo apresentado é fruto das pesquisas das advogadas Ana Beatriz Fonseca dos Santos e Margareth Vetis Zaganelli.
No sexto artigo, Giselda Shirley da Silva realizou um estudo que apresenta como plano de observação a Comunidade Remanescente de Quilombo de Santana do Caatinga, localizada em Paracatu até 1911 e desde então, no município de João Pinheiro, ambos no Noroeste de Minas Gerais. O objetivo foi refletir sobre a trajetória histórica dessa comunidade de negros que teve seu reconhecimento como remanescente de quilombo em 2004, buscando entrelaçar patrimônio, história e memória. De acordo com a historiadora, em 2010 essa comunidade teve seu conjunto arquitetônico tombado como patrimônio do município de João Pinheiro, por seu valor histórico e arquitetônico e relação com a história quilombola no município.
No sétimo artigo, Andriele Vieira da Costa e Maria de Lourdes de Aguiar Ferreira,
apresentaram um texto que tem como objetivo analisar como são trabalhados os poemas encontrados nos livros didáticos de Língua Portuguesa, as propostas apresentadas nos Parâmetros Curriculares Nacional (PCN) e no Currículo de Base Comum (CBC) de Língua Portuguesa do Ensino Fundamental I. Justifica-se a escolha do tema por não se presenciar com frequência o contato de crianças e textos esfera lírica e por não se ter um momento dedicado a eles nas escolas de Ensino Fundamental I.
Luiz Síveres e Rosa Jussara Bonfim são os autores do oitavo artigo e nele abordaram que a inclusão escolar das pessoas com deficiência ainda é motivo de discussão e enfrentamento de dificuldades em várias regiões do Brasil. Neste contexto, o artigo teve como objetivo realizar pesquisa qualitativa sobre a inclusão, de modo especial de uma deficiente visual que concluiu o curso de Pedagogia em 2018. Foi realizado estudo de caso na Instituição de Ensino Superior para entender como está acontecendo a inclusão escolar desses alunos, o processo de aprendizagem, os profissionais envolvidos e os outros acadêmicos.
O décimo artigo é de autoria de Aline Pires de Oliveira e Maria Célia da Silva Gonçalves, nele as historiadoras asseguram que objetivaram analisar a festa da padroeira Santa Rita de Cássia na cidade de Guarda-Mor, investigando a sua relevância religiosa e turística. Segundo as autoras a metodologia utilizada ancorou-se na História Oral Temática. E os resultados da pesquisa apontam que a festa é um vetor de identidade local, assim como possui um grande potencial turístico religioso.
A seção das Resenhas está composta por três trabalhos, a saber:
José Ivan Lopes resenhou a obra “Kant e a ideia de uma História Universal” de Joel Thiago Klein. De acordo com o resenhista, por meio da obra, o autor propõe uma análise sistemática do conceito de história universal na perspectiva kantiana, pois o referido conceito não se apoia na ideia de teoria mecânica e constitutiva da natureza, mas sim na utilização regulativa das ideias provenientes da razão. Em outras palavras, o entendimento de história universal não se limita à compreensão da sequência de fatos, mas à interpretação que a razão humana consegue captar dos referidos fatos. Verifica-se ainda que a medida da capacidade reflexiva de julgar, ou seja, o uso regulativo das ideias na filosofia da história permanece em aberto para a compreensão humana e está relacionada à análise teórica ou à aplicação prática da razão. Porém, o autor aponta para a possibilidade de uma história universal com um propósito cosmopolita que encontra sua legitimidade no interesse prático e não se refere a nenhum interesse teórico da razão. Dessa forma, a ideia da história universal, ressaltada na obra e que é considerada válida e útil, é aquela que aponta para o palco do agir e não para a seara do conhecimento.
A segunda resenha é de autoria de Eleusa Spagnuolo Souza e nela a autora aborda que pesquisa é o ato pelo qual procuramos obter conhecimento sobre alguma problemática, colhendo elementos que consideramos importantes para esclarecer nossas dúvidas, aumentar nosso conhecimento, ou fazer uma escolha. Fazemos pesquisa para construir ou elaborar um conjunto estruturado de conhecimentos que nos permita compreender em profundidade o mundo das coisas e dos homens que nos é revelado nebulosamente ou com aparência caótica. Pesquisar é avançar fronteiras, transformar conhecimentos e não fabricar análises segundo determinados formatos.
A terceira resenha foi executada por Marcos Spagnuolo Souza. Para ele, Espinoza defende a ideia de que não existe um ser pessoal, inteligente, que cria e governa o mundo, recompensando cada um de acordo com suas obras. Deus é imanente ao nosso mundo, mas não se esgota nele. Deus, ou Natureza, possui infinitos atributos, entre os quais a extensão (matéria) e o pensamento (ideias), que são os dois atributos conhecidos pelos humanos dentro da infinidade de atributos. Os atributos da Natureza são infinitos. Deus e a natureza são uma coisa só, não havendo distinção entre eles. Essa concepção exclui ideias transcendentais, exclui ideias dualistas. Deus é um ser único que se expressa em infinitas formas, sendo infragmentável, porém matizado. Ele é infinitamente diferenciado sem ser descontínuo. Produziu em si uma infinidade de coisas naturais finitas que são um dos seus atributos ou modo. Não há nada externo a Deus.
Esperamos que esse novo conjunto de contribuições seja apreciado para fins de leituras e pesquisas por investigadores, professores e alunos que estão preocupados em contribuir com o avanço das pesquisas, da arte e da cultura no sertão brasileiro.
Agradecemos aos colaboradores a contribuição nesse primeiro número e já deixamos o convite para participação no próximo ano!
Profa. Dra. Maria Célia da Silva Gonçalves
Profa. Dra. Helen Ulhoa Pimentel
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