Especialistas debatem em conferência internacional novos rumos do financiamento para fomentar economia mais sustentável e responsável
Presidente da Febraban, Isaac Sidney, e o ex-ministro da Fazenda Joaquim Levy foram alguns dos participantes de painel sobre o tema na Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias.
O sistema financeiro mundial precisa ser reformado para ser mais inclusivo e oferecer respostas a questões globais, como as mudanças climáticas e a erradicação da pobreza. É o que defendeu o presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Isaac Sidney, ao citar proposta formulada pelo presidente francês Emmanuel Macron. O setor de mineração também deve ter espaço para expandir sua atuação, de modo a elevar a produção dos minerais críticos e estratégicos para a transição energética. São eles que permitem desenvolver tecnologia e equipamentos que favorecem a maior oferta de energia limpa.
Esses foram alguns dos temas abordados no painel “A nova visão de investimentos”, no primeiro dia (6/11) da Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias, em Belém (PA). Isaac Sidney disse que a reforma do sistema financeiro é condição para que ele “se torne inclusivo, moderno e eficaz” para atender aos anseios da sociedade e abra caminho para um maior fluxo de investimentos, principalmente, em projetos cercados por boas práticas econômicas, ambientais e de responsabilidade social.
Participaram do painel, além de Isaac Sidney, o diretor de Estratégia Econômica e Relações com Mercados do Banco Safra e ex-ministro da Fazenda, Joaquim Levy; o vice-presidente de Negócios Governo e Sustentabilidade Empresarial do Banco do Brasil, José Ricardo Sasseron, o fundador da Osklen e Instituto-E, Oskar Metsavaht; e o diretor-presidente da Lundin Mining e vice-presidente do Conselho Diretor do Instituto Brasileiro de Mineração (IBRAM), Ediney Maia Drummond. O painel de debates foi mediado pela jornalista Denise Rothenburg, do Correio Braziliense.
Manter floresta em pé exige trabalhar com povos da floresta
Conseguir manter a floresta em pé vai além do anúncio de “projetos de investimento, de fundos, de crédito de carbono, de replantio ou manutenção da floresta”, disse Metsavaht. “Temos que saber trabalhar com os povos da floresta”. O Brasil tem uma grande oportunidade para oferecer produtos ligados à biodiversidade, mas precisa de projetos abrangentes, de Estado em parceria com a iniciativa privada e que os produtos resultantes sejam adequadamente ofertados ao mundo.
Sasseron concordou e disse que o Brasil precisa aprimorar a promoção de seus produtos no exterior. Atividades econômicas relacionadas a produtos com base em recursos naturais podem receber financiamentos, mas se faz necessário a promoção junto aos potenciais mercados compradores, o que pode impulsionar as novas economias em regiões como a Amazônia.
Sobre a expansão da mineração industrial para produzir minerais críticos e estratégicos à transição energética, inclusive na Amazônia, Ediney Drummond, disse que “o mundo tem pressa” para acelerar esta transição. No entanto, a implantação de um projeto mineral leva, em média, algo em torno de 10 a 12 anos. “Temos a responsabilidade enorme de não perdermos o timing da transição. Não podemos esperar mais 10, 12, 15 anos para fazer parte desta transição. O desafio é como atrair investimentos” para este propósito.
Sobre a atração de investimentos para o setor, o conselheiro do IBRAM disse que na bolsa de valores do país, a B3, há apenas cinco mineradoras brasileiras listadas enquanto que na bolsa de Toronto, Canadá, há mais de 30 mineradoras brasileiras listadas. “O apetite para investir em mineração no Brasil é muito maior lá fora do que aqui no país. Este é outro desafio a endereçarmos para fomentar a atividade mineral no Brasil”, disse.
Joaquim Levy observou que “a mineração tem crescido muito e que há perspectivas de melhoria na captação de recursos financeiros na bolsa brasileira para o setor. O ex-ministro também comentou que metais alvo de práticas ilegais de extração e comercialização, caso do ouro da Amazônia, tem sido motivo de ações voltadas a rastrear sua origem, de modo a evitar que ouro ilegal seja, inclusive, exportado. “O IBRAM tem um trabalho grande nesse sentido”, afirmou. Ele se referiu à iniciativa do Instituto junto a ONGs, empresas, representações diplomáticas, poder público, Academia, entre outros atores, para coibir o garimpo ilegal e a venda de ouro dessa atividade criminosa.
O presidente da Febraban, Isaac Sidney, ainda abordou a preocupação das instituições financeiras do país em endossar práticas voltadas à descarbonização. Segundo ele, 19 bancos, “que representam 40% dos ativos do setor bancário brasileiro, aderiram à iniciativa net zero”, que prevê zerar as emissões até 2050. Além disso, as instituições financeiras exigem que empreendimentos sujeitos a financiamentos comprovem que não coadunam com desmatamento ilegal.
A Conferência Internacional Amazônia e Novas Economias é organizada pelo IBRAM. Tem a parceria do Governo do Pará e é apresentada pela Vale e tem como patrocinadores na categoria Master, as empresas BHP, Hydro; como patrocinadores Belém, o Itaú e a MRN; como patrocinador Gestão de Resíduos, a empresa Alcoa; como patrocinadores Sustentabilidade, o Conselho Indígena Mura e a Potássio Brasil. Já na categoria Compensação de Carbono, a Conferência tem como patrocinador a Ambipar. A Latam é a companhia aérea oficial do evento.
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