Coletores de flores: Patrimônio Agrícola Mundial

 Coletores de flores: Patrimônio Agrícola Mundial

(Por Arnaldo Silva) Março de 2020 marcou o reconhecimento da Organização das Nações Unidas para Alimentação e a Agricultura (FAO) da importância histórica, econômica e sociocultural do sistema agrícola tradicional dos apanhadores de flores sempre-vivas de Minas Gerais como Patrimônio Agrícola Mundial, destacando as comunidades de Macacos, Lavras, Pé de Serra, e as quilombolas Raiz, Mata dos Crioulos e Vargem do Inhaí, nos municípios de Buenópolis, Diamantina e Presidentes Kubistchek, respectivamente, na porção meridional da Serra do Espinhaço. Além de coletarem flores, os povos dessas comunidades exercem outras atividades agrícolas, que ajudam no complemento da renda familiar, como cultivo de roças, criação de gado e atividades agroextrativistas, como frutos e plantas medicinais.

          Minas Gerais é o primeiro estado brasileiro a receber esse título de Patrimônio Mundial pela FAO. (fotografia acima de Elvira Nascimento) O reconhecimento é fruto de uma luta antiga pelo reconhecimento da atividade dos coletores de sempre-vivas, que trabalham no sistema de coleta tradicional das flores, superando as adversidades ao longo da história, preservando mesmo assim suas tradições culturais e o meio ambiente. A forma de coletar flores sempre-vivas é secular e vem da disposição do sertanejo, ao longo dos séculos, em trabalhar a terra, fazê-la produzir, mesmo com as adversidades do solo e relevo. O resultado é uma paisagem diferenciada, resistente às intempéries climáticas e uma herança genética natural para a humanidade.
          Agora, com o título dado aos Apanhadores (as) de sempre-vivas de Minas Gerais, são ao todo 58 patrimônios desse tipo em todo o mundo, sendo este, o primeiro e único do Brasil atualmente.
O processo formal para se candidatar ao título de Patrimônio Mundial da FAO começou em 2016 com a seleção dos locais feito Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a Embrapa, com identificação dos municípios e comunidades rurais da região meridional da Serra do Espinhaço, onde a atividade de apanhadores de flores de sempre-vivas é secular. (fotografia de Elvira Nascimento)
O projeto de candidatura contou ainda com apoio do Governo de Minas, prefeituras das cidades selecionadas e outros parceiros, bem como apoio técnico-científico de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Coube ao Ministério das Relações Exteriores, encaminhar os documentos e registro da candidatura à FAO, em novembro de 2019.
          “Para solicitar a candidatura, o sistema agrícola deve ser único e atender a algumas características, como possuir uma paisagem notável e diferenciada, rica biodiversidade, segurança alimentar, modelos de gestão diferenciados com sistemas de conhecimento local e tradicional, tecnologias de produção engenhosas, identidade cultural e valores socioculturais utilizados para sua manutenção”, segundo comentários feitos por Márcia Bonetti, coordenadora técnica estadual da Emater, em entrevista para a Agência Minas em março de 2019. (fotografia de Elvira Nascimento)
Ainda segundo informações de Márcia Bonetti à agência estatal, os apanhadores desenvolveram sistemas agrícolas diversificados em variadas altitudes, que vão de 600 a 1,3 mil m, aprenderam a lidar com a paisagem e com todas as adversidades encontradas ao longo dos séculos. No topo da serra, eles soltam o gado em uma parte do ano, coletam e fazem o manejo das flores sempre-viva. Nas partes mais baixas, realizam o plantio das roças de toco e fazem uso de sementes crioulas, cultivadas ao longo de gerações. (na foto abaixo, de Elvira Nascimento, flores de sempre-vivas)
          O título conquistado pelos apanhadores de sempre-vivas aumentará os investimentos, com politicas públicas adequadas, melhorando a qualidade do trabalho, gerando mais renda e mais empregos para os trabalhadores das comunidades. (na foto abaixo de Elvira Nascimento, artesãos fazendo artesanato com as flores de sempre-vivas)
          O sistema agrícola tradicional dos apanhadores de sempre-vivas ser Patrimônio Mundial  é uma conquista que enche de orgulho todo povo mineiro. Parabéns a todos por esse reconhecimento!
(Fonte das informações: Agência Minas, Embrapa, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Prefeitura de Diamantina e Emater)
https://www.conhecaminas.com/2020/03/coletores-de-flores-patrimonio-agricola.html

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