Alunos de outros municípios percorrem quase 100 km para frequentar ensino superior
Os brasileiros que frequentam o ensino superior fora de seus municípios de origem precisam se deslocar, em média, 92 quilômetros para ter acesso aos cursos. Os dados são da pesquisa Regiões de Influência das Cidades, divulgada hoje (25) pelo IBGE. O estudo considerou os deslocamentos com ida e volta todos os dias úteis, os de menor frequência (semanais, quinzenais ou mensais, comuns na educação a distância) ou com a mudança do aluno para a outra cidade. A REGIC também traz dados de deslocamento para acesso às áreas de cultura, esporte, saúde, transporte, informação, entre outras temáticas.
A pesquisa aponta uma larga difusão da procura por cursos de nível superior pelo território, não havendo, portanto, grande polarização por um pequeno grupo de cidades. Considerando o índice de atração, que aponta uma dimensão da quantidade potencial de pessoas que a cidade pode atrair para aquisição de bens ou serviços, as localidades com maior atratividade para o ensino superior foram os Arranjos Populacionais de Belém, no Pará, Salvador, na Bahia, Teresina, no Piauí, e São Luís, no Maranhão. Essas capitais foram destaque em relação ao número de pessoas que se desloca para elas com o objetivo de frequentar seus cursos.
Já quando são consideradas as cidades em que a atração para ensino superior foi muito acima da verificada em outras temáticas abordadas pela pesquisa, cidades de hierarquia urbana intermediária aparecem em primeiro lugar. É o caso de Sobral, no Ceará, Viçosa, em Minas Gerais e Santa Maria, no Rio Grande do Sul. Esse indicador calcula a diferença entre atratividade geral de uma cidade e sua atratividade para uma temática específica, como ensino superior, atividades culturais ou esportivas.
“O principal motivo de deslocamento dessas pessoas para essas cidades foi o acesso ao ensino superior. Sobral, nesse caso, se destacou porque tem um campus da Universidade Federal do Ceará, tem a Universidade Estadual do Vale do Acaraú e isso representa uma atratividade maior do que ela tem para outros temas. As pessoas vão mais lá para estudar do que para serviços de saúde, por exemplo”, explica a geógrafa da Gerência de Redes e Fluxos do IBGE Evelyn Pereira, também destacando as universidades de Viçosa e Santa Maria. A pesquisadora ressalta ainda que a atratividade específica faz com que essas cidades atendam tanto as pessoas de localidades próximas quanto as de áreas mais distantes.
“Em geral, essas cidades que representam atração maior no interior são polos de educação a distância, são sedes de Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia, têm campi de universidades estaduais ou têm suas próprias universidades, como acontece em Juiz de Fora, Maringá, Viçosa e Santa Maria”, completa.
Parintins (AM) e Cabo Frio (RJ) são as cidades com maior atratividade específica para atividades culturais
As atividades culturais, que incluem shows, festas, festivais, cinemas, teatros, museus, entre outros, tiveram a menor distância média de deslocamento entre todas as temáticas levantadas pela pesquisa, com 67 quilômetros. Entre as cidades que têm atratividade maior especificamente para atividades culturais, Parintins, no Amazonas, aparece em primeiro lugar, seguida de Cabo Frio, no Rio de Janeiro e Ribeirão Preto, em São Paulo.
“Nesse indicador temos as cidades em que quase toda ou a maioria da atratividade dela é por conta da questão cultural. Enquanto São Paulo (capital) atrai para todas as temáticas, Parintins, por exemplo, aparece em primeiro lugar porque o principal fenômeno que faz ela atrair pessoas são as atividades culturais. Esse indicador chama a atenção para cidades que têm na cultura, por exemplo, uma atratividade muito maior do que para outros temas”, explica o gerente de Redes e Fluxos Geográficos do IBGE, Bruno Hidalgo.
Nesse grupo destacam-se as cidades onde ocorrem festividades conhecidas, como o Festival Folclórico de Parintins e a Festa Junina de Caruaru, e cidades que recebem muitos turistas, como Cabo Frio e Caldas Novas, em Goiás. Já Ribeirão Preto, Juiz de Fora, em Minas Gerais, e Santa Maria, no Rio Grande do Sul, destacam-se por conta dos eventos frequentes.
Para Hidalgo, o que explica a menor média de deslocamento para atividades culturais é a maior frequência de eventos em cidades menores. “A gente sabe que os equipamentos como museus e cinemas são menos frequentes, mas shows e festivais acontecem em todo lugar, por isso as distâncias percorridas são menores. As cidades grandes, como capitais e metrópoles, são as que mais atraem para atividade. Mas quando observamos as cidades em que as atividades culturais são o principal fator de atração, temos esse quadro que chama atenção para a importância cultural regional”, comenta.
Hidalgo destaca que, entre os objetivos do estudo, está a identificação de centralidades importantes para temas específicos, o que também possibilita a implantação de políticas públicas direcionadas a elas. “Podemos identificar pontos no território em que as atividades culturais são mais rarefeitas e onde pode ser desenvolvida uma política de acesso a equipamentos culturais, por exemplo. Em relação ao acesso ao ensino superior, pode-se observar quais áreas estão mais distantes de universidades ou de centros de ensino tecnológico e quem está tendo que se deslocar mais e a partir daí elaborar políticas públicas para essas pessoas”, afirma.
“São inúmeras possibilidades de uso, mas sempre com olhar para o território, identificando lugares para os quais as pessoas estão sendo atraídas para um tema específico e dando visibilidade às que têm um movimento próprio que às vezes passam despercebidas”, complementa.
Em maio, o IBGE adiantou os dados da REGIC referentes às temáticas de saúde e comércio para contribuir com diagnósticos dos impactos da pandemia de Covid-19. À época, foram divulgados, entre outros dados, os deslocamentos médios dos brasileiros que precisavam sair de seu município de origem para receber atendimentos médicos de alta e baixa complexidade antes da pandemia.
Deslocamento médio de brasileiros para aeroportos é de 174 quilômetros
Entre as temáticas abordadas pela pesquisa, o maior deslocamento médio é feito pelos moradores que se dirigem a outros municípios quando precisam utilizar os serviços de um aeroporto. São 174 quilômetros, considerando medidas em linha reta das ligações entre cidades. Isso se deve ao fato de que há poucos aeroportos espalhados pelo país, fazendo com que moradores da maioria das cidades precisem se deslocar mais para ter acesso a eles.
Entre os estados que registraram maior deslocamento médio, destacaram-se o Mato Grosso, com 284 quilômetros de média, e o Amazonas, com 273 quilômetros. Apesar do seu tamanho territorial e de ter municípios com acessibilidade mais remota, o Amazonas tem um maior número de aeroportos e, por isso, a distância média de deslocamento não é tão alta quanto a do Mato Grosso.
Para mais informações sobre esse assunto acesse a página do IBGE na Internet – www.ibge.gov.br ou diretamente na Agência de Notícias IBGE – http://agenciadenoticias.ibge.gov.br/
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