Igiaba Scego, autora Italo-Somali, é destaque internacional no 2º Fliparacatu com  lançamento de romance impactante sobre exílio e trauma

 Igiaba Scego, autora Italo-Somali, é destaque internacional no 2º Fliparacatu com  lançamento de romance impactante sobre exílio e trauma

 

Festival Literário Internacional de Paracatu recebe a aclamada escritora Igiaba Scego, que divulga seu novo romance “Cassandra em Mogadício” no evento que acontece entre 28 de agosto e 1º de setembro

A renomada escritora ítalo-somali Igiaba Scego retorna ao Brasil para lançar seu novo livro “Cassandra em Mogadício” e será uma das grandes atrações do 2º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu. O evento, que ocorre na cidade de Paracatu (MG) de 28 de agosto a 1º de setembro, celebra “Amor, Literatura e Diversidade”, com uma programação gratuita. A obra de Igiaba é ao mesmo tempo uma carta, um relato histórico e uma genealogia familiar, um romance que destaca como os eventos globais moldam nossas vidas pessoais e entrelaçam histórias de resistência e adaptação de sua família ao longo das gerações.

No Fliparacatu a agenda da autora acontece na quarta-feira, dia 28 de agosto, às 20h,  no auditório Afonso Arinos, quando ela divide a mesa com Myriam Scotti e Itamar Vieira Junior. E no sábado, dia 31 de agosto, às 20h, no mesmo local, ela conversa com Conceição Evaristo e Jamil Chade.

Cassandra em Mogadício”, Igiaba Scego

Em Roma, no final de 1990, uma jovem de dezesseis anos se prepara para sua primeira festa de Ano-Novo, imaginando um novo ano cheio de promessas. Ela não sabe que nesta noite se cumprirá o destino que pesa sobre toda sua família: enquanto a televisão noticia com urgência a guerra civil que de repente eclode na Somália, o Jirro entra em sua alma para nunca mais abandoná-la. Espécie de doença e maldição, Jirro é a palavra somali que nomeia o mal causado pelo trauma do desenraizamento, algo que habita todos os sujeitos que vivem na diáspora.

Em “Cassandra em Mogadício”, Igiaba Scego, filha de imigrantes exilados na Itália durante a ditadura de Siad Barre na Somália, mistura seu italiano de origem com os sons da língua somali para compor ao mesmo tempo uma carta a uma jovem sobrinha, um relato histórico, uma genealogia familiar e um laboratório alquímico no qual o sofrimento se transforma em esperança graças às palavras. Como um fio, este romance envolvente revela como acontecimentos do mundo nos constituem intimamente e une o que a história gostaria de separar: seu avô, intérprete do General Graziani durante os anos infames de ocupação italiana na Somália; seu pai, diplomata e homem de cultura; sua mãe, criada num clã nômade e então engolida pela guerra civil; as humilhações da vida como imigrantes em Roma nos anos 90; a falta de uma língua comum numa grande família espalhada entre diferentes continentes; uma doença que dia após dia sequestra a humanidade dos olhos.

Sobre a Autora

Igiaba Scego é uma escritora italiana e somali, ativista cultural e pesquisadora independente. Nasceu em Roma, filha de imigrantes que se refugiaram na Itália após um golpe de estado na Somália, onde seu pai atuava como Ministro dos Negócios Estrangeiros. Possui doutorado em educação sobre questões pós-coloniais, tendo realizado um extenso trabalho acadêmico na Itália e em todo o mundo, e interessa-se especialmente por imigração e mobilidade. Seu primeiro livro de memórias, Minha casa é onde estou (Nós, 2018), e seu romance La linea del colore (2020) ganharam os prestigiados prêmios italianos Mondello e Napoli, respectivamente. Em 2021, a autora também foi contemplada com o Prêmio Internacional Viareggio-Répaci. Por Cassandra em Mogadício (Editora Nós, no prelo), Scego foi indicada ao Prêmio Strega. Entre seus livros, também estão Oltre Babilonia (2008), Adua (Nós, 2018), Caminhando contra o vento (Nós, 2018), além dos infantis Prestami le ali: storia di Clara, la rinoceronte (2017) e Figli dello stesso cielo (2021).

Trecho de “Cassandra em Mogadício”

“O Jirro me habitava desde meu nascimento, Soraya, mas foi naquela noite que conquistou meu corpo por inteiro.

hooyo estava em Mogadício. O aabo na sala de estar, em Roma, em frente à TV. Eu, ao contrário, estava no quarto, em Roma também, a poucos metros do aabo, procurando algo bacana para vestir enquanto cantarolava uma canção de Boy George.

Uma linha diagonal, obscena, rompia o rosto de meu pai, o rosto do meu aabo. Aquela linha lá, torturando-o, e ele imóvel, com a testa enrugada e as mãos tremendo. Seus olhos geralmente vivazes estavam afundados no crânio. Tinha um aspecto assustador. Ele já estava possuído pelo Jirro, mas nesse momento eu não havia percebido.

Eu já estava perdida dentro da minha adolescência, dentro de uma música de Boy George, dentro de seu Karma Chameleon. Uma menina diante do espelho, manejando uma escova de cabelo como uma espada.”

Sobre o Fliparacatu

O 2º. Fliparacatu acontece entre os dias 28 de agosto e 1º. de setembro, com o tema “Amor, Literatura e Diversidade” . Todas as atividades são gratuitas. A segunda edição do Festival Literário Internacional de Paracatu é patrocinada pela Kinross, via Lei Rouanet do Ministério da Cultura, e tem o apoio da Prefeitura de Paracatu, da Academia Paracatuense de Letras e Fundação Casa de Cultura.

Serviço:

2º Festival Literário Internacional de Paracatu – Fliparacatu  

De 28 de agosto a 1º de setembro, quarta-feira a domingo

Local: Programação presencial no Centro Histórico de Paracatu e programação digital no YouTube, Instagram e Facebook – @fliparacatu

Entrada gratuita

Informações: @fliparacatu

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