Paracatu é destaque como destino turístico e investimento em educação patrimonial
No Dia Nacional do Turismo o município do noroeste de Minas resgata o histórico de investimento que vem sendo realizado desde 2010
O que dizer de um município que possui o melhor do turismo ecológico, de negócios, pedagógico e cultural? De uma cidade que possui um conjunto arquitetônico que reúne edificações do Brasil Colônia – com elementos da arquitetura tradicional e imperial –, atravessando o art déco/art nouveau e o modernismo? Assim é Paracatu, que propicia ao visitante a satisfação de ir da Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos Livres construída por escravos alforriados – estilo jesuítico-barroco, datada de 1744 –, até um passeio para ver a fachada modernista do hotel Walsa, alçado ao lugar de símbolo das mudanças da cidade – edificação construída nos anos 1950, com nítidas influências da arquitetura moderna de Brasília. Você não irá se surpreender ao saber que no hotel se hospedaram Jean Paul Sartre, Lúcio Costa, Oscar Niemeyer, Jorge Amado, Mazarope e Assis Chateaubriand, entre outras personalidades relevantes do cenário político e cultural.
O município, localizado no noroeste de Minas Gerais, e que conta com aproximadamente 100 mil habitantes, desperta a curiosidade também pelos causos contados por ali. Eles vão desde a história de que a cidade foi dada como presente ao príncipe Dom Pedro I, por ocasião de seu nascimento; à relação de Guimarães Rosa com a cidade. Esta, por sua vez, advém de sua admiração pelo precursor da literatura regionalista Afonso Arinos de Paracatu. Para além de suas andanças pelas terras locais, Guimarães Rosa foi indicado à Academia Brasileira de Letras (ABL) por Afonso Arinos de Melo Franco, sobrinho do paracatuense Afonso Arinos, também membro da ABL. A esses causos se entrelaçam outros, como as histórias sobre os primeiros escravos libertos do país e que formaram alguns dos primeiros sítios quilombolas do país.
Paracatu é parte de fatos históricos que marcaram o Brasil e que incluem o ciclo do ouro, o processo de interiorização ainda no tempo das bandeiras, e a construção de Brasília. O município é diferenciado por seu patrimônio material e imaterial. Em relação ao patrimônio material, Paracatu foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), em 2012. Na defesa, um dos motivos que respalda o tombamento está embasado no fato de que o município se distingue por ser uma cidade fundamental por salvaguardar a cultura nacional. O patrimônio imaterial registra Paracatu como território gastronômico, do estado de Minas Gerais, e a “capital nacional do pão de queijo” – que obteve o Registro do Modo de Fazer o Pão de Queijo, por seus valores históricos, culturais e simbólicos.
O setor turístico em Paracatu tem investido na educação patrimonial, conforme destaca a cocriadora da Associação de Guias de Turismo do Noroeste de Minas (Guiastur), Christiane Santos. Para ela, “É a educação da comunidade local que mantém a cultura viva. O turismo não se restringe apenas aos investimentos junto ao trade que são fundamentais, mas precisamos considerar todos os atores e entes envolvidos nesta grande cadeia, a começar pelos nativos. É necessário despertar o senso de pertença desse grupo, em relação ao município. Se a população não valoriza a sua cultura e identidade, como mostrar para o estado ou o país tudo o que somos e representamos, nossas riquezas e particularidades, o que nos torna como cidade tão especiais”?
Os títulos e reconhecimentos recebidos pela cidade revelam que existe um trabalho árduo, feito ao longo dos últimos anos, especialmente de 2010 para cá. Tais iniciativas foram e são desenvolvidas por instituições como a Guiastur, a Agência de Desenvolvimento de Paracatu (ADESP), a prefeitura, e com a parceria de empresas como a Kinross, que possui operações no município e onde desenvolve atividades de pesquisa e desenvolvimento mineral, beneficiamento e comercialização de ouro.
A educação patrimonial esteve presente em vários projetos como o Descubra o Patrimônio Paracatuense, realizado de 2010 a 2012, com foco na valorização da cultura local. Também o Colabtur e o Colabtur Rural, com edições nos anos de 2014 a 2016, voltado para a preparação do trade no recebimento do turista. Já em 2017 e 2018 foi a vez do Educação Patrimonial do Turismo para a Democracia Cultural, e que contou com o apoio da Kinross. O Conviver Memórias – Cultura e Turismo na valorização da pessoa idosa –, outro projeto importante de educação patrimonial e inclusão social. A iniciativa foi adaptada ao contexto de enfrentamento da COVID-19, tendo sido aprovada pelo Fundo Municipal da Pessoa Idosa em 2019. O Conviver, realizado pela Guiastur com o apoio da Kinross, aconteceu nos anos de 2020 e 2021.
Em 2022, está acontecendo o Cutucar (Cultura e Turismo no Caminho Real: Educação Patrimonial e Inclusão Social) que, segundo Christiane Santos, seria uma espécie de continuidade do projeto Educação Patrimonial do Turismo para a Democracia Cultural. A iniciativa realizada pela Guiastur tem por objetivo promover a educação patrimonial dos estudantes de Paracatu, por meio de vivência prática e lúdica. É apoiado pela Kinross, Prefeitura Municipal de Paracatu, Associação dos Amigos dos Excepcionais (APAE) de Paracatu, da Superintendência Regional de Ensino e do Ministério do Turismo. O projeto visa atingir diretamente cerca de 1.000 estudantes e 170 profissionais da educação. Os beneficiários são os estudantes e professores de 5° ano do ensino fundamental da rede pública municipal e estadual da zona urbana, além de alunos atendidos pela APAE e de um educandário filantrópico local.
Para a diretora de Relações Governamentais e Responsabilidade Social da Kinross, Ana Cunha, “Projetos voltados para a educação patrimonial são relevantes para promover a reflexão sobre Paracatu, suas riquezas, histórias e saberes. É uma forma de se trabalhar a identidade do município, resgatar memórias, pensar e preparar o município para o turismo e a cidade que queremos ter”, destaca.
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