O CONSERVADORISMO QUE “RESSURGE”
foto da internet para ilustração
Gabriel Luiz de Jesus Ribeiro
Para que eu não confunda o outro, eu mesmo não posso me confundir, diz Nietzsche em Ecce Homo. Precisamos confessar, de forma bem simples, que mesmo diante de um aparato tão grande dos modelos institucionais como a ciência, a religião, a política e a família, ainda nos percebemos totalmente confusos, meio itinerantes dentro de nossas ideias. Parece-nos estranho aquilo que é diferente do que temos como linha de pensamento e parece-nos familiar quando algo nos faz sentido. Não é bem sobre aprender e reaprender e que o ser humano tem esse direito, talvez, seja mais sobre a efemeridade com que pensamos a nossa experiência pura – se é que ela existe no mundo.
O mais complexo de tudo isso é que não paramos para pensar sobre as constituições em consolidação que temos tentado todos os dias. É estranho imaginar o abismo que existe entre o que eu acredito e como eu realmente vivo tudo isso. Formar a ideia de que estou sendo falso “comigo mesmo” pode ser um bom começo, mas é apenas racionalismo despretensioso. Mas ironizar essas ideias, sob a interpretação da ironia socrática, poderia nos servir muito mais, nesse momento. É a maiêutica a saída mais efetiva para tanta distonia entre nossas ideias, uma quebra de estigmas que pedem de nós muito mais que uma “oração” (da linguística à prece religiosa).
As experiências sociais que hoje vivemos não são consolidadas a partir de um motu próprio de um indivíduo, mas da coletividade. A distribuição de cabeças com que o conservadorismo, por exemplo, institucionaliza seu poder é uma estratégia milenar, longe dos holofotes brasileiros, inclusive. Um conservadorismo que não arreda o pé da normatização da família, dos direitos, da religião, da política e até mesmo da ciência.
Se partirmos daí, começaremos a discutir que os modelos civilizatórios, hoje, servem a grupos especiais, não necessariamente, uma pessoa, um comandante, um presidente. Esse modelo civilizatório supera a compreensão republicana de uma nação, dispersando a ideia de que uma só pessoa faça com que todo o país mude de ideia, não! Eu acho justamente que é longe disso. Essas ideias sempre existiram, essas forças sempre estiveram ali e, por excelência, mantiveram seus status quo estrategicamente pendurados pelos modelos institucionais.
Me é distante a tirania de um só, mas me convence aquela de toda a nação. Dos grupos populacionais eugênicos que desejam consolidar seus marcos de higienização social e pormenorização das comunidades indesejáveis. Dessa forma, se trata de um conjunto de valores que são pregados todos os dias, um conjunto de grupos sociais.
Nos vem à cabeça a pintura do símbolo da suástica nazista no famoso memorial de Anne Frank nos Estados Unidos, sobretudo, quando percebemos a conflituosa relação conservadora ao deixar que o presidente derrotado nas eleições deste ano, Donald Trump, deixe seu posto soberano na Casa Branca. Ao mesmo tempo, os “novos” movimentos antivacinas que alcançam cada vez mais espaço nas redes. Seria um “reborn in the new age” ou grupos radicais que sempre estiveram socialmente presentes, mas nunca representados na opinião pública?
Parece um tanto diferente pensar que essas ideias sempre existiram e sempre estiveram conosco, a única diferença é que não possuíam espaços de posse, grupos aos quais poderiam manifestar livremente seus “estatutos sociais”. Com a eleição do conservadorismo em países da américa – conservadorismo do qual mantenho as críticas e a razão pelos problemas que o mundo enfrenta em sua grande quantidade – fez com que consolidássemos, ainda mais, a exclusão do que é diferente, ainda confuso, mas naturalmente diferente.
Não nos deixemos ser confundidos pelo conservadorismo. Ele mata mais que a guerra, ele é assassino a sangue frio. São os grupos que o defende que devemos temer, não apenas o seu representante-mor.
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