ILUSÃO
Numa viagem de regresso às nossas origens, notamos um espermatozoide atrevido se esperneando (sem pernas) incomodando sem trégua os óvulos distraídos e tal qual um passe de mágica, tchibum! Foi dada a bandeirada inicial para mais uma vida. Então começa o pimpolho se valendo do que a genitora alimenta vai se desenvolvendo, desde o início já começa dando trabalho, uma indisposição aqui, um enjoo ali. Altera por completo o metabolismo da mãe, e o ser humanozinho nem ai, cresce tal qual abóbora verde. Findo os 270 dias eis que a pessoa surge em corpo e alma! Tapinha no traseiro, festa, todo mundo alegre! Nas semanas seguintes quase ninguém dorme. O bichinho aumenta de tamanho numa velocidade, infância, aborrecência e logo, já tem muita coisa de adulto, ignora ordens, quer e defende a ideia de que é capaz de cuidar de si. Pronto! Certo ou errado já é visto não apenas como individuo, mas cidadão. Doutrinado ou educado onde quer que seja no planeta, o humano se correto, busca desenvolver uma atividade ou profissão. Inicia-se então o período em que aquele esboço de gente tem uma opinião própria sobre tudo. Assim comportam a maioria das pessoas, não se trata do individuo apenas pensar que é bom, ele simplesmente se sente o melhor em tudo. Se um motorista, melhor que o Sena, se político, acima e superior a todos, médico, os melhores estão muito aquém, advogado, sabe tudo e mais um pouco, atleta, não ganha só quando não quer, e por ai vai. O ser humano se ilude de forma fácil demais, a maioria de nós encabulados com uma primeira referência elogiosa nos sentimos a última azeitona do vidro, e olha que acima nem citei os juízes, sobre os quais afirmam as boas línguas que deles, a metade pensam sobre si que são deuses, a outra metade, ora, têm certeza cada um, que Deus é ele. Grosso modo, como pessoas muitos de nós esquecemos ou, propositalmente, deixamos de observar nossa própria origem, mergulhados em pura ILUSÃO acabamos por nos erguer a patamares que estão além até mesmo da capacidade humana, e quase sempre, a maioria de nós só caímos na real tarde demais. É ILUSÃO se julgar maior que os outros, também o é, ser considerado melhor que seu semelhante, o sopro de vida que me fez movimentar também acordou o outro, e, a vida terrena dele se cessará tal qual a minha no último suspiro, e mais, se do pó viemos, a ele retornaremos pelo mesmo caminho.
Miguel Francisco do Sêrro – Advogado e Historiador
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