HAROLDO UM BRASILEIRO

Sisudo, sapatos brilhando, terno e gravata, segue aquele homem com destino ao templo onde atentamente ouvirá o discurso do pregador de sua predileção.   Duas vezes por semana, religiosamente, Haroldo repete a cena descrita, às vezes leva a família, mas nos últimos tempos, se algum problema impede esposa e filhos, ele não, jamais deixa de cumprir o ritual de seguir a passos firmes para participar do culto.   Há quem diga que o individuo acima é o que podemos chamar de pessoa perfeita, dia a dia, semana a semana, o ano inteiro, apanha sua bicicleta monark barra circular e ruma para o trabalho, não falta um dia, pouca conversa, ri pouco, ajuda as pessoas, e mais, paga o dízimo no templo assim que recebe seu salário, um homem de bem.   Aí pensamos será?   Seria Haroldo um modelo a ser seguido?   O que ele próprio pensa sobre o que pensam dele?   Tudo na vida dele corre às mil maravilhas?   Muitas perguntas, poucas respostas.   Certa vez o convidaram para fazer parte do grupo que administra e ministram os cultos, ele, por razão que só a ele diz respeito apenas balançou a cabeça dizendo não, meio misterioso o Haroldo.   Por conhecê-lo bem, me aproximei e trocamos um “dedo de prosa”, quis e vim a saber:   Para aquele homem visto como modelo, perfeição não existe, o mundo e as coisas são regulados por pontos de vista, aceitação e compreensão.   E disse mais, segundo ele o juízo de valor que fazemos é específico de cada um, e por mais que nos esforcemos em agir como a maioria entende certo, se fizermos uma autoanálise discordaremos de parte das nossas próprias atitudes.   Haroldo confidenciou: Ele próprio se julga longe de figurar como um modelo a ser copiado; sua família assim como todas as outras tem inúmeros problemas que por ele não falar praticamente ninguém sabe, e finalizou afirmando que a maioria de nós gastamos tanto tempo avaliando e dando nota para o que os outros fazem, que mal sobra tempo para dar uma ajeitada na própria vida.   Em síntese, o Brasil está cheio de HAROLDOS(AS), pessoas bem intencionadas que fazem “das tripas coração” para errar o mínimo possível, no entanto, agir sempre corretamente é tarefa quase impossível, fica o alento da aparência, onde a sociedade nos enxerga e nos taxa de perfeitos.   Trocando em miúdos, um pequeno consolo e reconhecimento das pessoas, no sentido de que estamos fazendo o que podemos para acertar.   Cada um sabe dos próprios erros e falhas, que, invariavelmente, a sociedade no todo não consegue ver.

Miguilim – Boa semana!

Miguel Francisco do Sêrro – Historiador/Advogado

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O Lábaro

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