O PATRÃO E O TIÃO
foto da internet -Lauro de Freitas,
As ondas da orla de Lauro de Freitas incomodam quando batem indicando o subir da maré, alguns turistas já enfeitam a gostosa areia que massageia os pés, um encanto as praias da região. Arrastando um barco de tamanho médio surge um cidadão, alto, grisalho, com aparência geral de estrangeiro que fez uma viagem sem volta para Salvador. Margeando a água surge outra pessoa, o Tião, mochila nas costas, bermuda, chinelos enfeitados com a areia grossa, numa das mãos o Tião traz uma lata com fogo aceso. –Queijo na brasa! Material de primeira! É só pedir entrego na hora! Assim gritava o vendedor praiano. Observei que o Tião parou próximo ao suposto estrangeiro, e, em tom de indagação falou. –Precisa hoje patrão? A que o estrangeiro respondeu. –O Sebastion, non ter gente no casa meu. Hoje non Sebastion! Hoje non! Logo depois vim a saber que o Tião, caboclo trabalhador faz dupla jornada, lida como caseiro na casa do Patrão, e quando de folga vende queijo assado na praia, queijo adquirido no bairro de Itapoã, material de primeira dizem. Observando os dois não tive como não registrar um fato curioso que me levou a refletir. O estrangeiro entra numa grande e bonita casa construída de forma irregular, creio, (pois de certa forma fecha o acesso ao mar) deixa lá dentro as rodas que facilitavam a remoção do barco, retorna e mergulha na cristalina água do mar permanecendo submerso uns quinze segundos. Feito isso, entra no barco e com determinação rema e desaparece mar adentro. A e o Tião que a tudo observara o que faz? Acomoda a mochila em local seguro afastada das ondas, deixa de lado a lata (churrasqueira) que sapeca o queijo, mal o caboclo tira a camisa e num salto meio acrobático mergulha quase que exatamente onde estivera o Patrão. Honestamente não sei o que passou pela cabeça daquele homem franzino ao imitar o ato do Patrão. Seria um ato de desabafo tipo, sou quase igual a você, tem coisa que não é só você que pode, o marzão é meu também? Num aspecto se assim pensou tem razão o Tião, a mesma água que refrescou o corpo de um, banhou o outro e quase que num mesmo instante. Ao menos em alguns momentos e nas formas mais naturais do comportamento humano, podem ser notados atos e atitudes que colocam todas as pessoas em patamar de igualdade. Avançando um pouco mais viro meu rosto para a realidade, que mostra que os momentos que evidenciam AS DESIGUALDADES entre as pessoas de todo o planeta sobrepujam e muito a atitude que presenciei igualmente tomada, quase que simultaneamente pelo PATRÃO e o TIÃO.
Miguilim na quarta-feira – Bombardeado pela desigualdade
Miguel Francisco do Sêrro – Historiador e Advogado
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