21 de março Dia Mundial da Poesia

 21 de março Dia Mundial da Poesia

Essa data de 21 de março Dia Mundial da Poesia  foi o dia escolhido, na XXX Conferência Geral da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), em 1999, para homenagear a poesia, promover a diversidade das línguas e intensificar os intercâmbios entre culturas.

Quais foram os objetivos da criação do Dia Mundial da Poesia?

A organização afirmou que alguns de seus objetivos são:

  • dar um novo reconhecimento aos movimentos poéticos;
  • promover diversidade linguística;
  • dar visibilidade a línguas ameaçadas de extinção;
  • reconhecer a importância da tradição literária.

A poesia é celebrada nesse dia por ser a forma mais antiga de arte com as palavras, já que toda a Literatura começou por meio da tradição oral, precursora da poesia que temos hoje: a primeira forma de produção “literária” consistia em versos orais, geralmente acompanhados de uma lira (instrumento musical).

Citaremos um escritor brasileiro e um internacional, um poema de cada:

  • Pablo Neruda (Chile)
  • Adélia Prado

 

PEÇO SILÊNCIO – PABLO NERUDA

Agora me deixem tranquilo.
Agora se acostumem sem mim.

Eu vou cerrar os meus olhos.

Somente quero cinco coisas,
cinco raízes preferidas.

Uma é o amor sem fim.

A segunda é ver o outono.
Não posso ser sem que as folhas
voem e voltem à terra.

A terceira é o grave inverno,
a chuva que amei, a carícia
do fogo no frio silvestre.

Em quarto lugar o verão
redondo como uma melancia.

A quinta coisa são os teus olhos,
Matilde minha, bem-amada,
não quero dormir sem os teus olhos,
não quero ser sem que me olhes:
eu mudo a primavera
para que me sigas olhando.
Amigos, isso é quanto quero.
É quase nada e quase tudo.

Agora se querem, podem ir.

Vivi tanto que um dia
terão de por força me esquecer,
apagando-me do quadro-negro:
meu coração foi interminável.

Porém porque peço silêncio
não creiam que vou morrer:
passa comigo o contrário:
sucede que vou viver.
Sucede que sou e que sigo.

Não será, pois lá bem dentro
de mim crescerão cereais,
primeiro os grãos que rompem
a terra para ver a luz,
porém a mãe terra é escura:
e dentro de mim sou escuro:
sou como um poço em cujas águas
a noite deixa suas estrelas
e segue sozinha pelo campo.

Sucede que tanto vivi
que quero viver outro tanto.

Nunca me senti tão sonoro,
nunca tive tantos beijos.

Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.

Me deixem só com o dia.
Peço licença para nascer.

Pablo Neruda, em “Presente de um Poeta”. [tradução Thiago de Mello]. São Paulo: Vergara & Riba, 2001. {publicado no livro ‘Estravagario’ (1958), poema escrito em agosto de 1957}.

 

COM LICENÇA POÉTICA – ADÉLIA PRADO

Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não tão feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas, o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
Inauguro linhagens, fundo reinos
— dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida, é maldição pra homem.

Mulher é desdobrável. Eu sou.

Inserido em Bagagem, seu livro de estreia, Com licença poética, é o poema que inaugura a obra e faz uma espécie de apresentação da autora até então desconhecida do grande público.

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O Lábaro

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