1º Encontro dos Caminhantes do Sertão

 1º Encontro dos Caminhantes do Sertão

E nisto, que conto ao senhor, se vê o sertão do mundo. Que Deus existe, sim, devagarinho, depressa. Ele existe – mas quase só por intermédio da ação das pessoas: de bons e maus. Coisas imensas no mundo. O grande-sertão é a forte arma. Deus é um gatilho? Guimarães Rosa

Nos dias 15, 16 e 17 de abril aconteceu o 1º Encontro dos Caminhantes do Sertão. Exercitar o corpo, observar a paisagem rural e percorrer trilhas. Foi essa a experiência proporcionada pelo 1º Encontro dos Caminhantes do Sertão, no feriado da Semana Santa.

Caminhar por lugares diferentes trás uma ótima sensação de liberdade, o contato com a natureza nos renova, além de proporcionar cenários únicos.

 

    

Esses foram os guias: Senhor Argemiro, Paulo Gomes, Antônio (Tico) e Maria Fernanda

Objetivo do Encontro

O primeiro Encontro dos Caminhantes do Caminho do Sertão teve como propósito o congraçamento dos caminhantes, promovendo o intercambio das experiências dos mesmos após a participação no projeto, fortalecer os laços de amizade e companheirismo, apresentar o estado da arte do processo de implantação do turismo de base Comunitária na rota e reanimar a rede dos caminhantes do Caminho do Sertão.

Trajeto

 

Trata-se da “Rota dos Quilombos”, um recorte da grande rota do  Caminho do Sertão. A região foi majoritariamente povoada por descendentes de escravos e a rota atravessa 4 quilombos: Morro do Fogo, Barro Vermelho I, Buraquinhos e Buracos. São comunidades negras rurais que preservam a cultura e práticas ancestrais, são empobrecidas e marginalizadas, dependem do auxílio de programas governamentais, praticam a agricultura de subsistência. São hospitaleiros, solidários e alegres. As comunidades do Morro do Fogo e Barro Vermelho estão localizadas na área do Parque Estadual Serra das Araras. A rota atravessa uma belíssima paisagem de amplas veredas, expressivas composições rochosas e areais e o encantador “canion” do Vão dos Buracos.

Participantes

 

Para o Encontro não foi feito seleção, bastava ter participado de uma das edições do Caminho e se inscrever. Participaram em torno de 40 pessoas. A seleção ocorre é no processo do edital do Caminho do Sertão. O edital para a edição de 2022 está aberto até o próximo dia 26 de abril. Favor conferir nas redes sociais do Caminho.

Moradores da região e benefícios

As edições anuais do Caminho do Sertão, constituem-se no principal polo difusor dos potenciais turísticos de toda a região, seja do ponto de vista da paisagem e da diversa cultura regional, sejam aqueles vinculados ao principal patrimônio imaterial da região: a obra do escritor João Guimarães Rosa. O turismo criativo e de base comunitária, estimulado e promovido pelo Caminho do Sertão aponta para a possibilidade concreta de ampliação e diversificação da renda das famílias que moram nos povoados e principalmente no meio rural.

O Portal

Trata-se do “Enigma do Caminho do Sertão” e, portanto, precisa ser decifrado pelos caminhantes. O que se pode dizer é que tal enigma bebe na paisagem e na cultura local e se inspira na enigmática linguagem Roseana que, além de filosófica e de raiz popular, tem expressivo cunho existencial.

Caminho do Sertão

O Caminho do Sertão como toda rota de longa distância invariavelmente ocasiona impacto muito significativo na vida de quem o realiza. As transformações orgânicas e psíquicas frutos dessas experiências costumam deixar marcas profundas e reorientar, do ponto de vista existencial, a vida do caminhante.

Informações passadas pelo Organizador e idealizador do Projeto Almir Paraca.

Cada parada um carinho especial dos moradores das comunidades, comida quentinha e muito aconchego.

  

Alguns depoimentos dos Caminhantes do Sertão

“Como voltar ao sertão se ele nunca saiu de mim, e eu dele, depois que pisei aquelas poeiras, veredas, areias…? O hiato cronológico (2019-2022) parece que só existiu na lógica linear, porque, no berço da memória, tudo estava lá. O gosto da comida, o cheiro do cerrado, o sabor das conversas, o bailar dos corpos, a rigidez dos cajados. Foram dias intensos e incríveis, onde os quatro elementos, propostos como guiança, se fizeram presentes sem pedir licença. A chuva nas barracas e nas roupas, o vento e a brisa das serras, o fogo da terra queimando os pés e o coração. Tudo ali escondidinho. A risada solta, as lágrimas de limpeza, as danças marcadas pelas palmas das mãos,  o cuidado, a escuta, a acolhida, a alegria em estar ali. Uma imensidão de singos para reforçar o significado e o sentido da travessia entre o nascer e o morrer. Um desejo de correr pelos campos e de ficar um pouco mais na barraca quando o sol dava “um tapa de luz”. Mas dessa vez, o medo de voltar para casa, passando pelos corredores do aeroporto como um abapuru conselheiro, foi menor: porque, tenho compreendido, cada vez mais, que “o sertão é dentro da gente”. Obrigado, gente, por estar em minha travessia. Gratidão mesmo!!! Trago todo mundo em minhas vivências, em minhas memórias, em meus pés ainda tingidos do terroso chão e no coração que anseia pelo dia em que nos veremos de novo para fazer do céu, telhado e do chão, o piso. Travessia!”

Marcos Cajaiba

“Boa noite, minha gente!

Chegando atrasada por aqui para as partilhas (dos registros) e para o agradecimento…

É que com tudo que é muito intenso e profundo, o coração, às vezes, silencia…

Vou compartilhar uns poucos registros que fiz… E aproveitar para agradecer pela beleza do caminhar juntos…por todas as partilhas, alegrias, cantorias e cada passo dado, que nos mostra que o sertão é dentro da gente, está em todas as partes e é do tamanho do mundo!

Riobaldo já dizia que “amizade dada é amor”…Por isso, muito agradecida, de coração, pelo amor, pela entrega, pela CURA e pela experiência do que é essencial na existência para ser.tão.

Um xêro pra vocês!”

Patrícia Cruz

 

“Caminho do Sertão. Terá mesmo existido além do meu fantasioso imaginário? Essa ligação ♾️ da magia que penetra  com os pés no chão o real, o Ser Tão? Eu quis reencontrar, rever, ressentir, recordar… Mas os passos antes dados só voltam em redemunho. Cada travessia é única. Essa foi de cura. Para os caminhantes, cidadãos do mundo, bichos criados soltos; curarem o resguardo de tempos fechados e sombrios. Borandá pra amplidão das chapadas, borandá ligeiro nos vales onde os pés grudam e as proteções se perdem. Meu imenso agradecimento, do tamanho do sertão em que os pastos carecem de fecho, aos que nos acolheram e proporcionaram esse caminhar.”

Até breve!

Giselle

 

Que lugar, que viagem, que cenário de fundo… A cada quilômetro conquistado uma vista única, uma surpresa nova.

“Geodésica: a forma mais forte, leve e eficiente de encerrar espaço desenhada pelo homem. “

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O Lábaro

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